Glossário

Esta página traz um glossário de termos subjetivos da Acústica para descrever a sonoridade de tambores e pratos. Antes de elencar os termos, é necessário apresentar alguns conceitos.

Espectro sonoro e campo auditivo

O espectro sonoro é o conjunto de frequências de vibração que compõem todos os sons, tanto os audíveis para o ser humano quanto os inaudíveis.

  • Infrassom é qualquer som com frequência maior que 0 Hz e menor que 20 Hz. É inaudível;
  • Campo auditivo é a faixa de frequências que o ouvido de um ser humano adulto consegue captar, e vai de 20 Hz a 20 kHz;
  • Ultrassom é qualquer som com frequência maior que 20 kHz e menor que 1 GHz;
  • Hiper-som é qualquer som com frequência maior que 1 GHz.

O campo auditivo pode ser dividido em faixas de frequência denominadas grupos. Os grupos se subdividem em bandas correspondentes às características da altura (frequência) dos sons. Não há consenso na literatura sobre a quantidade de grupos nem sobre as faixas de frequência, que dependem do campo de aplicação. Uma divisão baseada no artigo Audio Spectrum Explained e na referência Audio Frequency Spectrum Cheatsheet é ilustrada na tabela a seguir:

Grupo Banda Faixa de frequência
Agudos Presença 6 − 20 kHz
  Brilho 4 − 6 kHz
  Médios-agudos 2 − 4 kHz
Médios Médios 500 Hz − 2 kHz
  Médios-graves 250 − 500 Hz
Graves Grave 60 − 250 Hz
  Subgrave 20 − 60 Hz

O campo auditivo pode ser mostrado graficamente como na figura a seguir:

Grupos e bandas de frequência do campo auditivo

Representações gráficas do som

É possível representar graficamente as propriedades dos sons para melhor compreendê-los e analisá-los. Três dessas representações são a forma de onda, o espectro e o espectrograma, descritos nas seções a seguir.

Forma de onda

Forma de onda é a representação gráfica em um plano cartesiano da amplitude de uma onda em função do tempo.

A forma de onda de um bumbo Rogers de 22” é mostrado na figura a seguir:

Forma de onda

Espectro de um som

Espectro de um som é uma representação gráfica das amplitudes ou intensidades (energia) dos sons simples de um som composto em função das respectivas frequências para um dado trecho (janela de análise) do sinal sonoro. Esses sons simples, cada um com sua frequência e amplitude, são chamados de componentes espectrais.

  • Um espectro é dito harmônico se as frequências de todos os parciais são múltiplos da frequência fundamental por um número inteiro.
  • Um espectro é dito inarmônico se a frequência de algum parcial não é um múltiplo da frequência fundamental por um número inteiro.

O espectro a partir de 1 segundo de uma flauta que toca a nota Lá central (440 Hz) é mostrado na figura a seguir. Embora existam parciais cujas frequências não são múltiplos da frequência fundamental por um número inteiro, a frequência fundamental e os harmônicos são claramente identificáveis e predominantes em intensidade e por isso o espectro é aproximadamente harmônico:

Espectro a partir de 1 s de uma flauta que toca a nota Lá central

O espectro do momento inicial da percussão de um bumbo Rogers de 22”, nitidamente inarmônico, é mostrado na figura a seguir:

Espectro do momento inicial da percussão de um bumbo Rogers de 22"

Espectrograma

Em Acústica, espectrograma é uma representação gráfica do espectro de um som em função do tempo.

O espectrograma mostra três propriedades de cada componente espectral1 em um gráfico cartesiano bidimensional: a frequência, o momento em que ocorre, e a intensidade. Um eixo representa a frequência e o outro representa o tempo; a intensidade de uma dada frequência em um dado momento é indicada pela cor do ponto que a representa.

Um espectrograma 2D da percussão de um bumbo Rogers de 22” é mostrado na figura a seguir. A maior parte da energia está no grupo dos graves, formado pelas bandas subgrave e grave:

Espectrograma 2D de um bumbo Rogers de 22"

Estágios da duração de um som

A forma de onda de um som produzido por um instrumento musical pode ser subdividida em estágios de intensidade (amplitude) crescente, decrescente, constante e novamente decrescente, conforme ilustrado na figura a seguir:

Estágios da duração de um som produzido por um instrumento musical

Os estágios são descritos a seguir:

  • Ataque (A): o intervalo de tempo entre o silêncio e a intensidade máxima do som;
  • Decaimento (D): o intervalo de tempo entre a intensidade máxima e a estabilização da intensidade do som;
  • Sustentação (S): o intervalo de tempo em que o som tem intensidade aproximadamente estável;
  • Repouso (R): o intervalo de tempo da queda da intensidade do som de aproximadamente estável para o silêncio.

A forma geométrica produzida pela variação de amplitude é chamada de envoltória ou envelope ADSR.

Estágios nos instrumentos de percussão

Em tambores e pratos de bateria, o estágio de ataque geralmente é bastante curto porque ao percutir o instrumento a intensidade aumenta repentinamente em um intervalo de tempo bastante reduzido, conforme ilustrado na figura a seguir:

Envelope ADSR de um bumbo Rogers de 22"

Quando um(a) baterista ou fabricante de baterias ou pratos usa o termo decaimento, geralmente se refere ao estágio de repouso. Este texto adota essa abordagem.

Extensão e tessitura

Extensão é definida na Wikipedia como segue:

Em música, o termo extensão refere-se ao conjunto de todas as notas que um determinado instrumento musical ou uma voz é capaz de emitir, independente (sic) da qualidade produzida. (grifo conforme o original)

Tessitura é definida na Wikipedia como segue:

Na música, tessitura refere-se ao conjunto de notas usadas por um determinado instrumento musical, com a qualidade necessária à sua execução. No caso da voz humana, refere-se ao conjunto de notas que um cantor consegue articular sem esforço excessivo de modo que seja produzida com a qualidade necessária. A tessitura tem, portanto, uma abrangência menor que a extensão. Enquanto que a extensão representa todas as notas fisicamente realizáveis, a tessitura refere-se às notas mais frequentemente utilizáveis. (grifos conforme o original)

Os tambores e pratos da bateria são instrumentos de percussão de altura indefinida porque produzem notas cuja altura não pode ser distinguida pelo(a) ouvinte – ruídos. Mas têm extensão e tessitura, conforme Hugo Pinksterboer expõe em sua obra The Cymbal Book2 a respeito dos pratos:

Pratos são instrumentos de altura indefinida. Se um prato vai ser considerado agudo, médio ou grave vai depender da faixa dominante de frequência, ou tessitura. Um bom prato produz frequências em cada uma dessas três áreas. Todas elas têm uma certa função no som. As proporções entre elas determinam em grande medida qual é a característica do prato. (grifos nossos)

Alguns termos subjetivos da Acústica

A Acústica adotou vários termos subjetivos para descrever as sensações auditivas que resultam do processamento dos estímulos sonoros pelo cérebro. Alguns desses termos, que complementam e enriquecem as caracterizações físicas dos sons com descrições visuais e sensoriais, são úteis para descrever a sonoridade de tambores e pratos.

Vários dos termos fazem referência às faixas de frequência (grupos) do campo auditivo e às bandas nas quais eles se subdividem.

Termos originados do estudo da acústica de salas de concerto

Os termos calidez, escuro e brilhante foram definidos por L. Beranek (BERANEK, 2003)3 conforme descrito a seguir:

  • Calidez (warmth): de forma geral, a calidez da música de uma orquestra em uma sala de concerto está diretamente relacionada à audibilidade dos sons graves; e, em termos técnicos, é determinada pela intensidade desses mesmos sons. Um som grave claramente audível é dito cálido ou quente;
  • Escuro (dark): um ambiente onde os sons graves são demasiado intensos;
  • Brilhante (bright): um som definido, metálico e vibrante, com agudos proeminentes de decaimento lento e rico em harmônicos.

É comum descrever a tessitura de um prato ou tambor como quente, escura ou brilhante. Alguns textos também descrevem o som de tessitura escura como aveludado ou encorpado.

O conceito de calidez foi definido com maior detalhe por M. Long (LONG, 2014)4 com o auxílio do termo reverberação:

  • Reverberação: a continuação do som no ambiente depois que a fonte sonora deixa de produzi-lo;
  • Calidez (warmth): reverberação das baixas frequências, entre 75 e 350 Hz.

Alguns termos descritivos para pratos

O(A)s bateristas usam termos peculiares para descrever características dos pratos. Alguns desses termos são apresentados a seguir.

Articulação de baqueta, ping e wash

Os termos a seguir são de autoria de Francisco Domene, proprietário da fabricante de pratos Domene Cymbals, em uma publicação no perfil da empresa no Instagram:

  • Articulação de baqueta: é o som do estalo da baqueta no prato;
  • Ping: é o som do metal, como um martelo batendo na bigorna de um ferreiro.

Os termos a seguir são de autoria de Mike Fitch, em seu artigo Technique: Finding The Perfect Ride Cymbal:

  • Definição de baqueta: é o som (condução5 ou ping) que o prato faz quando percutido pela ponta da baqueta;
  • Wash: é a mescla de sobretons criada pela vibração do prato.

Os termos a seguir são de autoria de Casey Scheuerell, em sua obra Berklee Jazz Drums (SCHEUERELL, 2018)6:

  • Estalo/Som de baqueta: é o tanto de baqueta que ouvimos. Se você tocar com uma baqueta de madeira em um tampo de mesa de madeira, vai ouvir um “clique” que decorre do ataque da baqueta. A parcela desse clique que ouvimos ao tocar o prato é chamada “estalo”. Também é descrita com frequência como “som de baqueta”;
  • Wash: descreve o som do prato que não é o som do ataque inicial.

Comentário sobre a diferença entre som de condução e ping

O termo “definição de baqueta” de Fitch abrange dois sons:

  1. condução;
  2. ping.

São sons com características diferentes. Hugo Pinksterboer, em sua obra The Cymbal Book2, dá a seguinte orientação para escolher pratos de condução:

Escute o tipo de som do ataque – o que você escuta no momento que a baqueta toca o prato. Pode variar do som que é comumente descrito como ping, que é bastante brilhante, até um “tique” extremamente seco ou gutural. (grifo nosso)

Trazemos novamente a definição de “brilhante” de L. Beranek3:

Um som definido, metálico e vibrante, com agudos proeminentes de decaimento lento e rico em harmônicos. (grifos nossos)

A definição de ping de Domene, descrita no começo desta seção, segue a mesma linha:

É o som do metal, como um martelo batendo na bigorna de um ferreiro.

Com estas definições, podemos agora diferenciar com exatidão o som de condução e o ping:

  • O som de condução – apenas o som do ataque, sem washnão tem agudos proeminentes e não é vibrante;
  • O ping tem agudos proeminentes e é vibrante.

Por fim, o ping é comumente associado ao prato de condução. Para produzi-lo, o(a) baterista percute a cúpula do prato ou a área circunvizinha.

Comentário sobre a diferença entre os sons de condução do chimbal e do prato de condução

Dois pratos têm por função básica tocar a condução: o chimbal (hi-hat) e o prato de condução (ride). Tratamos a seguir da diferença entre os sons de condução produzidos por cada um.

  • O chimbal, mantido fechado e tocado com as baquetas, produz um som compacto e definido – o “clique” do ataque da baqueta – ao qual não se segue wash porque a pressão no pedal mantém os pratos juntos em uma posição fixa e os impede de vibrar livremente;
  • O prato de condução, por sua vez, vibra livremente após ser percutido na área de condução, e por isso seu som de condução será seguido por wash.

Podemos então concluir que a diferença entre os sons de condução do chimbal (mantido fechado e tocado com as baquetas) e do prato de condução é que o primeiro não é seguido por wash, e o segundo é.

Termos descritivos para o wash

Há fabricantes de pratos que descrevem o wash de alguns modelos como “sujo” e o de outros como shimmering:

  • Sujo (trashy): de acordo com o site do artesão Craig Lauritsen, “muitos sons inarmônicos (particularmente na faixa de frequência de médios a agudos) de presença similar no wash, que resultam em um wash complexo de tessitura indistinguível”. Essa descrição é comumente aplicada a pratos china;
  • Shimmer (“som prateado”): conforme definido por Rossing (ROSSING, 2000)7, agudos entre 3 e 5 kHz que se sobressaem na mescla de frequências do wash e evocam a sensação de brilho trêmulo;
    • Shimmering: prato com shimmer proeminente.

Características funcionais

Dos termos a seguir, “corte” foi obtido do site da fabricante Sabian e os demais foram obtidos e adaptados do site da fabricante Paiste:

  • Corte: a capacidade do som (geralmente alto ou forte) de “cortar” a música ao redor e se fazer ouvir com clareza entre os sons produzidos por outros instrumentos;
  • Seco (dry): prato com som compacto e definido, com pouco ou nenhum wash. Contrastar com vivo;
  • Vivo (lively): prato com som vibrante e wash de moderado a proeminente. Contrastar com seco. Um prato com som especialmente vivo é dito explosivo;
  • Rápido (fast): prato (geralmente de ataque ou de corte) que responde – “abre” – quase imediatamente e por toda sua área ao ser tocado;
  • Resposta (response): a combinação da característica (seca ou viva) e da velocidade (mais/menos rápida) com as quais o prato reage – “abre” – ao ser tocado.
  1. Os sons simples que formam um som composto, cada um com sua frequência e amplitude. 

  2. Pinksterboer, H. (1993). The Cymbal Book. Hal Leonard. ISBN: 9781476866390.  2

  3. Beranek, L. (2003). Concert Halls and Opera Houses: Music, Acoustics, and Architecture. Springer New York. ISBN: 9780387955247.  2

  4. Long, M. (2014). Architectural Acoustics. Elsevier Science. ISBN: 9780123982650. 

  5. Pulso constante que faz a manutenção do tempo (em inglês, timekeeping). 

  6. Scheuerell, C. (2018). Berklee Jazz Drums. Berklee Press. ISBN: 9781540021663. 

  7. Rossing, T.D. (2000). Science of Percussion Instruments. Series in popular science. World Scientific. ISBN: 9789810241582.